Softwares de monitorização estão na moda, mas a má utilização pode ser nociva. Psicólogos mais procurados.
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O insaciável apetite dos mais novos por ecrãs está a levar ao aumento do número de pais que utilizam aplicações para monitorizar a atividade virtual dos filhos. Este tipo de software está cada vez mais na moda, mas o mau uso pode gerar conflitos familiares e são cada vez mais os casos em que o controlo correu mal.
No último ano e meio, apareceram mais de dez novas aplicações de controlo parental na GooglePlay e na AppStore. Embora não haja dados do número de descargas em Portugal, estão disponíveis em qualquer loja virtual e destinam-se a monitorizar a localização do telemóvel do filho via GPS, limitar o tempo passado na Internet, espiar as mensagens que recebe e envia e a atividade nas redes sociais ou gravar o som ambiente através do microfone.
Pandemia fomentou
A má utilização destas aplicações por parte dos pais pode originar conflitos familiares que transitam para o ambiente escolar e, como tal, são cada vez mais os casos em que as famílias procuram ajuda terapêutica.
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"Essas são uma realidade e uma preocupação crescentes, também no contexto escolar, de modo que têm sido promovidas ações de formação e capacitação, quer para as crianças e jovens, quer para os pais", afirma Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Para além das escolas, também as autarquias têm disponibilizado formação.
O aumento dos conflitos originados pela má utilização da monitorização da atividade virtual dos filhos pode ser explicado pelos últimos 17 meses, acrescenta a dirigente: "Tivemos um recurso aos meios digitais até três vezes maior do que era comum, e estaremos, agora, numa fase de transição e de reajustar os tempos de ecrã".
Rosário Farmhouse, presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), entende que "as aplicações de apoio parental podem ser úteis". No entanto, considera "fundamental ter sempre em conta o contexto e a idade da criança ou jovem".
Ou seja, pode ser compreensível a monitorização da atividade virtual de um filho de 12 anos que é alvo de ciberbullying, mas já não é tão tolerável o controlo das mensagens de um adolescente de 17 anos sem justificação. "Quando chegamos à adolescência, isso começa a trazer mais problemas do que aqueles que resolve", constata Tito de Morais, fundador do site MiudosSegurosNa.Net.
Quebra de confiança
Perante o aumento da utilização destas aplicações, a Deco Proteste elaborou uma lista de softwares e deixa o aviso aos pais: "Antes de instalar, converse com os filhos e explique os motivos por que pretende fazê-lo. Se as crianças vierem a descobrir que instalou a app sem lhes contar, pode surgir uma quebra de confiança".
Diálogo, confiança e honestidade são as palavras-chave de uma utilização sã, uma vez que as questões legais parecem ter poucas fronteiras definidas. Ler as informações do software e a idade recomendada também pode evitar conflitos, até porque o seu uso veio para ficar.
"Ficamos entusiasmados com a procura a que temos assistido pelo Family Link e com as histórias que ouvimos sobre como está a ajudar crianças e pais", refere a porta-voz da Google em Portugal.