Estreito de Ormuz: um rio de petróleo sob ameaça que pode agitar a economia mundial
Os ataques de Israel contra o Irão e a intervenção norte-americana no conflito levaram o parlamento de Teerão a aprovar o encerramento do Estreito de Ormuz, uma das vias marítimas mais importantes para o comércio de petróleo global. Se a ligação for cortada, teme-se uma escalada de preços e uma nova subida na inflação.
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Onde fica?
O Estreito de Ormuz localiza-se entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, sendo a principal via por onde seguem o petróleo e o gás e os demais bens produzidos na região. A ligação é controlada pelo Irão (a norte) e por Omã (a sul). O estreito tem cerca de 33 quilómetros de largura.
Qual a sua importância?
Cerca de 20% do comércio global de petróleo realiza-se pelo Estreito de Ormuz. Os países da OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo -, Arábia Saudita, Irão, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque, exportam a maior parte dos seus barris por ali. A Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo, nove milhões de barris por dia na sua capacidade máxima, tem pipelines alternativos, caso o Irão se decida pela medida mais drástica, que pode afetar a sua própria venda de crude ao Mundo. O oleoduto saudita liga a costa do Golfo ao Mar Vermelho. Também os Emirados Árabes Unidos possuem uma via de exportação alternativa desde as suas costas até ao terminal petrolífero de Fujairah, a leste do Estreito de Ormuz, relembra o jornal britânico "The Guardian".
Causas imediatas da instabilidade
Apesar de a vontade do parlamento iraniano ter ainda de ser submetida à decisão final do líder supremo Ali Khamenei, que prometeu aos EUA que se iam arrepender caso decidissem intervir no conflito, apesar de nunca ter mencionado o estreito, o preço do petróleo tem estado a subir desde que Israel atacou o Irão, com expectativas de que possa aproximar-se da barreira dos 100 dólares (cerca de 90 euros).
A Goldman Sachs lançou um alerta, esta segunda-feira, para os riscos na cadeia de abastecimento de petróleo e de gás natural e das consequências que a instabilidade no estreito vai causar nas economias se o Conselho de Segurança do Irão der luz verde ao encerramento do canal.
Quais as economias mais afetadas?
O aumento do preço do petróleo tem impacto em todo o Mundo, mas o vislumbre de uma nova crise inflacionista pode afetar os planos económicos de Donald Trump, em especial.
Por outro lado, os países do Golfo Pérsico são os primeiros a enfrentar as consequências imediatas do encerramento, tendo sido, por isso, dos primeiros a criticar o ataque de Israel ao Irão, em salvaguarda dos seus próprios interesses.
A Ásia é o destino de 84% do petróleo que passa pelo estreito de Ormuz, e a China apresenta-se como um dos países mais afetados. Pequim compra 90% do petróleo produzido no Irão, que não vende para as restantes economias ocidentais devido às políticas de sanções, que resultam em parte da sua política de desenvolvimento de armas nucleares.
A importância do estreito para a China foi usada pelo secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio. "Incentivo o governo chinês, em Pequim, a falar com eles sobre isso, porque dependem muito do Estreito de Ormuz para o seu petróleo", afirmou, além de dizer ao Irão que a medida ia resultar no próprio "suicídio" económico persa.
China pede esforços e UE diz que "não seria bom para ninguém"
Com o mundo à espera de saber se e quando a medida será de facto implementada, a China apelou a esforços internacionais. "O Golfo Pérsico e as suas águas circundantes são canais importantes para o comércio internacional de bens e energia", afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Guo Jiakun, numa conferência de imprensa em Pequim.
A proposta feita no domingo pelo parlamento iraniano levou ainda a União Europeia a falar num passo extremamente perigoso à escala planetária. "O Parlamento iraniano exigiu o encerramento do Estreito de Ormuz, o que seria extremamente perigoso e não seria bom para ninguém", afirmou a Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Kaja Kallas, esta segunda-feira.